quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ciro 2

Ciro contraria Planalto e diz que mantém candidatura à Presidência

Deputado do PSB afirma que não disputará governo paulista e volta a bombardear aliança entre PT e PMDB


Disposto a driblar as pressões do governo, o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) rompeu ontem o silêncio e avisou que manterá sua candidatura ao Palácio do Planalto, contrariando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prega a união da base aliada no palanque da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). Um dia após a divulgação da pesquisa do Instituto Sensus pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), Ciro afiou o discurso e bombardeou a aliança entre o PT e o PMDB, embora Lula insista na ideia de uma campanha plebiscitária contra o PSDB do governador de São Paulo, José Serra.

Para o deputado, o presidente comete "grave erro" quando avalia que sua desistência beneficiaria Dilma, pré-candidata do PT. "Mantenho a minha candidatura à Presidência da República", afirmou Ciro ao Estado, no retorno das férias parlamentares. Ex-ministro da Integração Nacional, ele garantiu que, apesar de ter transferido o domicílio eleitoral para São Paulo, a pedido de Lula, não concorrerá ao governo paulista.

Dilma e Ciro quase se encontraram ontem, antes do almoço, na cerimônia que marcou a reabertura dos trabalhos legislativos, na Câmara. O deputado, porém, chegou atrasado e nem viu a chefe da Casa Civil deixar o Salão Verde. Pela pesquisa CNT/Sensus, a presença de Ciro no páreo garante a realização do segundo turno e impede a vitória de Serra, postulante do PSDB, na primeira rodada. Mesmo assim, o governo avalia que esse cenário não se sustenta quando começar a campanha de fato.

Com Ciro na disputa, Dilma chega bem perto de Serra, segundo o levantamento realizado entre os dias 25 e 29 de janeiro. Ela tem 27,8% das intenções de voto e Serra, 33,2%. Ciro fica em terceiro lugar, com 11,9%, e a senadora Marina Silva (PV) em quarto, com 6,8%.

"Na vida a gente não sobe em salto alto", esquivou-se Dilma, ontem, quando questionada sobre seu crescimento na preferência do eleitorado. Cautelosa, a ministra saiu da Câmara cumprimentando deputados, senadores e funcionários do café, mas se recusou a dar entrevistas.

"Vocês me desculpem, mas hoje eu não vou falar", disse ela aos repórteres, caminhando com passos firmes na direção do elevador. Ao seu lado, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha - articulador político do Planalto -, aproveitava para dar tapinhas nas costas de parlamentares. "Estou fazendo um cadastramento dos descontentes com o governo", brincou.

Pouco antes, o vice-presidente José Alencar roubou a cena. Apesar de emocionar a plateia ao falar sobre sua luta contra o câncer no abdome, ele acabou provocando uma saia-justa política quando disse que "vice não tem voto".

Sentado ao lado do presidente da Câmara, Michel Temer (SP) - nome que o PMDB quer emplacar como vice na chapa de Dilma, apesar da resistência no governo e nas fileiras do PT -, Alencar agradeceu a Lula por ocupar o Planalto."Sou vice graças ao presidente. Ninguém vota no vice. Vota no titular", insistiu ele. Temer, que pouco antes o homenageara no discurso como "exemplo de vida e de político", não esboçou reação. Ficou impassível.

Aplaudido de pé, Alencar deu socos no ar. Lembrou ter abdicado de quatro anos de mandato como senador pelo então PL para ser vice de Lula. Sorridente, afirmou ter consciência de que o apreço recebido hoje é fruto da solidariedade dos que acompanham suas idas e vindas ao hospital. Ele já passou por 15 cirurgias.

"Não tenho a ilusão de que isso se revele em votos na próxima eleição", comentou, arrancando risos. "Se eu tivesse esse pensamento, confesso que estaria preparado para receber 100% dos votos." Hoje no PRB, Alencar tem dito que, se ficar curado, concorrerá ao Senado. "Se Deus quiser me levar agora, não precisa de câncer para isso. Se não quiser que eu vá, não há câncer que me leve. E tudo indica que ele não quer me levar agora", encerrou. Foi ovacionado.


Fonte: O Estado de S.Paulo

Nenhum comentário:

Postar um comentário